13.3.05

Ainda sobre o Mundial Master...

Devido a grande repercusão gerada pelo artigo "Vitalidade e Paixão pelo Basquete" publicado neste Blog semana passada, a ex-atleta e integrante da equipe Vice-campeã mundial na Nova Zelândia Suely Roma, solicitou a publicação de um novo texto que visa, de uma vez por todas, esclarecer quaisquer dúvidas dos leitores com relação a competição realizada.


VETERANAS: Início ou Fim ?
(Continuação do texto: Vitalidade e Paixão pelo Basquete)

Por Suely Roma


É extremamente importante o direito de expressão de todas as pessoas, principalmente de nomes que ajudaram a perpetuar o basquete no Brasil. Mas nem sempre críticas são bem pensadas e quando isso acontece somente colaboram para a decadência de um esporte que já mostrou muitos talentos no nosso país, talentos estes que aos poucos foram esquecidos em detrimento de outros.

É importante ressaltar que as pessoas que gostam do basquete devem entender que vivem num país em vias de desenvolvimento e que investimentos para a prática de qualquer esporte não é relevante, principalmente numa categoria tão amadora com o Master.

Entendam que quem participa desta categoria Master, para o Brasil, não recebe o apoio e a atenção merecida, pois vivemos num país dos absurdos e esse é mais um. Então quando vem alguém a público criticar negativamente um evento do qual o Brasil participou, centrando sua crítica sobre o viés da política, entendendo está no pior sentido da palavra, vemos que tais pessoas sofrem de uma séria limitação, pois certamente não sabem reconhecer o esforço de como a dita "fraca equipe feminina" conseguiu chegar até a Nova Zelândia. É no mínimo intrigante observar como é que pessoas que sempre viveram ou vivem no mundo do esporte brasileiro ainda fiquem surpresos com a questão política, pois esta sempre foi norteadora de todas as decisões não apenas do basquete, mas de todas as modalidades na qual o Brasil devesse compor as suas representações.

Esclarecendo um pouco a participação brasileira neste evento, é importante destacar fatos que fizeram a trajetória desta equipe feminina em ChristChurch, para que a leitura dessa participação seja de fato verdadeira e transparente, e todos os leitores dessa matéria possam fazer uma análise não unilateral , mas contextual para entender os desafios e lutas para se chegar até lá.

O caminho percorrido não foi tão fácil como se parece. Apenas no mês de dezembro de 2004, duas jogadoras pernambucanas, uma delas que escreveu seu nome na história do basquete brasileiro defendendo o Brasil diversas vezes, e que ainda hoje, luta como profissional e jogadora para não deixar a modalidade acabar definitivamente no seu estado, souberam das dificuldades financeiras que impediriam a possível formação da equipe brasileira em participar deste evento. Estas pessoas então se mobilizaram politicamente para viabilizar as suas ida ao evento de forma a não deixar o país mais uma vez fora de um campeonato mundial Master. Obviamente esta busca de recursos procurou não onerar o bolso de nenhuma das instituições organizadoras (AVBESP /AVBRJ ou qualquer outra), ou seja, elas pagariam suas despesas de viagem (passagem, hospedagem e alimentação) com recursos próprios ou de patrocinadores locais. Como conseguiriam verba só para "Jogadoras Pernambucanas", já que o patrocínio era local e restrito a jogadoras da terra, aproveitaram e convenceram mais uma ex-jogadora a participar de forma a conseguirem mais investimento.

O fato é que as pessoas que criticam sem saber a história não conseguem reconhecer que conseguir recursos para isso no Brasil se trata nos dias de hoje de uma grande vitória. Após essa conquista inicial, as jogadoras pernambucanas ficaram sabendo que a única instituição no Brasil que havia se prontificado a levar a participação feminina em mundiais não mais iria para o referido evento por falta de recursos suficientes para "bancar" o restante da equipe. Sabendo também deste fato, as pernambucanas "mais uma vez" se mobilizaram através de um admirador da prática do basquete Master em seu estado, a buscar com sua influência política convencer os investidores locais que a participação do Brasil era importante e para isso era necessário um pouco mais de recurso que infelizmente só foi suficiente para levar mais 4 jogadoras. Depois de muitas insistências, telefonemas, justificativas a confirmação dessa verba veio a público na noite do dia 29 de dezembro de 2004 (Vê-se aqui que nem tudo foi um conto de fadas e nada caiu do céu por acaso, foi-se a luta para buscar. Diga-se de passagem, "lutar é uma das características mais marcantes do povo nordestino").

Vencida mais esta etapa, 7 jogadoras estavam garantidas e encontramos a oitava jogadora na representação de uma das amantes do basquete brasileiro que soube do processo da quase não participação do Brasil e resolveu COM SEUS PRÓPRIOS RECURSOS ajudar a equipe brasileira. Vale aqui lembrar que esta jogadora também já defendeu a equipe do país em outros tempos, desta forma, também escrevendo seu nome na história.

Depois de todos os acontecimentos já citados acima, fica claro para quem lê este artigo, que qualquer pessoa com o mínimo de discernimento saberia identificar que para qualquer país participar de campeonatos mundiais Master não é necessário está vinculado a nenhuma instituição específica, ou seja, qualquer grupo pode se organizar formalmente / legalmente e se inscrever para participar, independente de ser AVBRJ ou AVEBESP. Estamos falando aqui que do Oiapoque ao Chuí neste Brasil, o que vale não é só a vontade de querer participar tem que ?correr atrás? para somar.

Quanto ao fato de que SP é o estado que possui as melhores equipes e tem as melhores jogadoras, é inegável a sua contribuição frente as equipes femininas de base e representações oficiais em mundiais e olímpíadas. Mas não é dessa realidade de basquete feminino que estamos falando, estamos aqui tentando "fazer acontecer" a categoria Master e parece-me que SP "esqueceu no passado" a contribuição de suas meninas de ouro, inviabilizando que elas ainda poderiam ser "as mulheres maduras do basquete do amanhã". Se de fato ele é o melhor porque que não reconhece que precisa proporcionar participação nessa categoria? Acho que é hora de pensar sobre isso. O fato é que a história do basquete feminino brasileiro não foi feita apenas pelos estados do sudeste, mas também do restante do país.
Ressalto aqui que Pernambuco tem tradição e história e mesmo sendo um estado comparativamente pobre, onde NUNCA se treinou basquete mais do 3 vezes por semana e duas horas por dia, SEMPRE para quem conhece a história do basquete feminino no Brasil, apresentou ótimas jogadoras e ótimos resultados no cenário nacional.

Quanto a questão política tão criticada nesta participação feminina, é importante observarmos que na maturidade em que estamos vivendo, a compreensão da palavra "política" não deve ser resumida ao significado pejorativo, próprio da ignorância, sendo confundida apenas com politicagem. Esta deve ser entendida também como ?arte ou ciência de orientação para a obtenção de um fim, influência da opinião pública, prática ou profissão de conduzir negócios em qualquer esfera, habilidade no relacionar-se com os outros para a obtenção de resultados desejados e tantas outras definições?. E ai eu pergunto aos que simplesmente criticam porque não "foram convidados a participar desta viagem" o que vocês realmente estão fazendo para uma boa política no basquete feminino Master no Brasil? Nós, aqui no nordeste, estamos pelo menos conseguindo fazer a nossa parte para que ele continue crescendo.

Quanto aos que apenas criticam negativamente: "já não é hora de menos palavras alienadas e mais ação"? Pensem sobre isso.